A presente publicação resulta do trabalho desenvolvido no âmbito do projeto Literacia para a Igualdade de Género e Qualidade de Vida: Lideranças Partilhadas da Fundação Cuidar O Futuro.
Esta publicação reúne contributos de mulheres e homens que participaram
de formas diversas nos percursos realizados: como representantes de
organizações parceiras e codinamizadoras ou dinamizadores dos workshops;
como facilitadoras (parcerias transnacionais) no processo de reflexão
das equipas do projeto e de dinamização; como participantes nos
workshops; como avaliadoras externas ou ainda como membros da equipa do
projeto.
De sublinhar também o contributo da oradora sueca convidada para
proferir a conferência sobre Consciência cívica enquanto forma moderna
de solidariedade social, realizada já na fase final do projeto, servindo
de semente de e para o futuro.
Os textos demonstram a pluralidade de vozes que se cruzaram neste
percurso de literacia para a liderança, na dupla perspetiva de igualdade
de género e de qualidade de vida. Para além da informação sobre a ação
realizada neste projeto, nalguns deles encontra-se também informação
sobre a investigação realizada no âmbito do Programa de Investigação e
Intervenção da Fundação Cuidar O Futuro, onde foi preparado o “chão de
partida” para a conceção deste projeto.
No intuito de encontrar uma certa lógica, embora que difusa, optou-se por reunir os textos em três capítulos.
O capítulo À PROCURA DE UM CHÃO DE PARTIDA. CONTRIBUTOS IMPULSIONADORES
agrega os textos que sustentaram o projeto Literacia para a Igualdade de
Género e Qualidade de Vida: Lideranças Partilhadas, quer na formação da
equipa, quer na preparação do grupo alargado de dinamizadoras e
dinamizadores.
Em Lideranças Partilhadas. A caminho de um novo paradigma? Marijke de
Koning dá voltas nómadas através de percursos de literacia para a
liderança de mulheres realizados no âmbito da Fundação Cuidar O Futuro,
desde 2004, no intuito de sistematizar e problematizar a experiência de
investigação-ação e a metodologia utilizada. O próprio processo de
liderança da equipa do projeto é objeto de reflexão, bem como a
viabilidade de lideranças partilhadas.
Em Reflexões sobre literacia de mulheres para a liderança, a viagem de
uma amizade, Ine van Emmerik explora o desenvolvimento da liderança das
mulheres como um caminho circular, com base na imagem do zigurate
introduzida por Maria de Lourdes Pintasilgo.
Em Espaço em branco, intervisão e agência partilhada, Ine van Emmerik
aborda o espaço em branco enquanto lugar que fica na transição entre a
ordem e a surpresa, onde se propicia o aprender no encontro, na
intervisão e no confronto com a alteridade para atingir uma agência
partilhada.
No texto Vitamina C para comunidades. Comunicación como arte y arte como
comunicación, Jeannette Claessen une comunicação a arte comunitária no
sentido do desenvolvimento da comunidade visando a redução de riscos
sociais através de uma autêntica participação das pessoas.
O capítulo QUESTIONANDO PRÁTICAS, CRUZANDO TRAJETOS reúne os textos que
aprumam posturas desafiadoras de questionamento da teoria ao serviço das
práticas
Em Consciência cívica enquanto forma moderna de solidariedade social,
Kerstin Jacobsson introduz as noções de consciência cívica e de
co-sentimento cívico enquanto categorias sociológicas, abordando a
combinação específica de individualismo e coletivismo característica da
cultura cívica sueca para conceptualizar os laços sociais e os
mecanismos de integração e solidariedade sociais na Suécia
contemporânea.
Em Produzir conhecimento a partir das pessoas, Teresa Toldy analisa os
desafios colocados pela crítica feminista à produção de discursos de
mulheres para mulheres, nomeadamente os desafios colocados à palavra por
silêncios que se constituem como formas de resistência ao discurso
regulador.
Hugo Monteiro, no texto Diálogo, investigação e emancipação: percursos
partilhados, parte da noção de diálogo como abertura ao outro e
emancipação pessoal e social que faculta vias complexas e partilhadas de
significação e descoberta, para ensaiar interrogar o alcance
metodológico sugerido na expressão aprendizagem pela conversa e
questionar o conceito de lideranças partilhadas.
Em Conversa(s) sobre qualidade de vida e trabalho social: do
desenvolvimento pessoal ao desenvolvimento social significativo, Liliana
Lopes conceptualiza a qualidade de vida enquanto desenvolvimento
pessoal e social para refletir sobre o papel desempenhado por
trabalhadoras e trabalhadores sociais na promoção da melhoria sustentada
da qualidade de vida das populações, abordando as tensões dialéticas
surgidas nos worshops do projeto.
No texto Ideias a desconstruir ou a reinventar: questionando percursos
tradicionais de liderança de mulheres e de homens, Cláudia Múrias e
Raquel Ribeiro procuram constituir o percurso de literacia para a
igualdade de género da equipa coordenadora do projeto, enquadrando
ainda, resumidamente, a proposta de igualdade de género subjacente ao
mesmo.
Em Aprender pela conversa: assim como e depois?, Eunice Macedo e Amélia
Macedo questionam a aprendizagem pela conversa enquanto instrumento de
lideranças partilhadas para a construção de literacia, igualdade de
género e qualidade de vida, recorrendo às observações efetuadas sobre os
workshops do projeto e aos conceitos de voz de Arnot e de democracia
inclusiva de Young.
O capítulo ANCORANDO EXPERIENCIAS PLURAIS: REFLEXÕES A PARTIR DE
VIVÊNCIAS agrupa os textos que ancoram as narrativas produzidas nas
vivências experienciadas neste projeto.
Em Estereótipos sobre as mulheres: apontamentos para uma abordagem
histórica, António Nunes mostra como a educação das mulheres, em
Portugal e durante os inícios do Estado Novo, acabou por traduzir um
conjunto de clichés sobre as mulheres que se têm tornado difíceis de
modificar, salientando que o momento narrático ao organizar o não-formal
faz emergir o reencontro com a problemática, deslocando-a da periferia
para o centro da nossa civilização.
Fátima Veiga, no texto A construção de lideranças num contexto de
(in)diferença ao nível do género e da exclusão social, reporta o
envolvimento da EAPN Portugal no projeto, salientando os pontos de
interesse e de união entre a missão da organização e as temáticas e
objetivos centrais do mesmo, nomeadamente a liderança, as questões de
género, a pobreza e a exclusão social, e reflete acerca das dinâmicas
vivenciadas nos workshops, evidenciando os testemunhos de várias
participantes.
No texto Reflexões sobre Lideranças Partilhadas: um projeto que conheci e
vivi, Ionut Cosmin Nadă propõe-se a apresentar uma visão diferente
sobre o projeto por pertencer a um simples participante nas atividades e
por apresentar um olhar do exterior, mas não distante ou pouco
envolvido. Faz ainda uma curta radiografia de Portugal, através de um
aparelho de fabricação estrangeira, conferindo uma visão outra sobre o
país, mas em sintonia com os objetivos do projeto.
Em Voos Sustentados, Filipa Júlio, jornalista de profissão, responde ao
desafio de descrever, com um olhar jornalístico, a implementação do
projeto Lideranças Partilhadas na Semente de Futuro, uma das parcerias
rurais do projeto. Aceitado o repto, usa a caneta e o papel em branco
para viajar um pouco pelas experiências partilhadas por algumas das
intervenientes, entre outras pelas duas dinamizadoras Ana Maria Braga da
Cruz e Bonina Brandão.
Por último, no texto Das motivações às apreciações. Aprendizagens pela
conversa na literacia para a igualdade de género, qualidade de vida e
lideranças partilhadas, Raquel Ribeiro e Cláudia Múrias debruçam-se
sobre as motivações e apreciações das 248 pessoas participantes nos
workshops, para discutir o contributo do projeto na promoção de
literacia para a igualdade de género, qualidade de vida e lideranças
partilhadas.
Os nossos agradecimentos dirigem-se a autoras e autores que aqui estão
presentes com a palavra escrita, mas também a todas e todos que
participaram com as suas vozes e os seus silêncios nas Conversas, que
constituíram o contexto onde se pode questionar práticas e ir
reinventando formas outras de agir.
Um especial agradecimento às autoras do prefácio, Luiza Cortesão,
Presidente do Instituto Paulo Freire de Portugal (IPFP), e do posfácio,
Helena Costa Araújo, Diretora do Centro de Investigação e Intervenção
Educativas (CIIE) da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto (FPCEUP). Sem estas parcerias de primeira hora,
este projeto não teria tomado o rumo que tomou. (Múrias & Koning,
2012: 11-14).
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